
Uma Breve História...


Jogo de Tabuleiro egípcio (1500 a.C.) Museu do Cairo


Miniatura de trem a vapor alemã (1900 d.C.) Museu do Brinquedo de Nuremberg


Cavalinho de madeira grego (900 a.C.) Museu Arqueológico de Atenas


Casa de bonecas holandesa (1500 d.C.) Museu Rijks de Amsterdan
O brinquedo, de acordo com a Britannica, é um "objeto de brincar, geralmente para bebês ou crianças, e frequentemente um instrumento usado em uma brincadeira". Bem mais do que isso, os brinquedos refletem os valores e a cultura da sociedade, estando presentes na vida humana há milênios, conforme mostram pesquisas arqueológicas recentes. Sendo assim, eles mostram como as diversas gerações de pessoas que passaram pelo planeta tratam a infância, os papéis de gênero e a critividade.
A cada época, as influências dos hábitos humanos são perceptíveis nas manifestações culturais e isso tem efeito nos brinquedos. Em tempos de guerra, é comum ver-se brinquedos militares, e em supostos tempos de paz, os brinquedos educativos e cooperativos ganham destaque. O apelo pela conscientização ambiental fez surgir brinquedos sustentáveis que são feitos de materiais recicláveis, o que nos leva a ver o brinquedo como um reflexo do pensamento humano e reconhecê-lo como parte do patrimônio cultural, sendo hoje um objeto de estudo em universidades, museus, e projetos de memória, como este site.
Os brinquedos variam dos mais simples aos mais complexos, desde o cabo de vassoura selecionado por uma criança e imaginado como um cavalinho de pau até dispositivos eletromecânicos sofisticados. A coordenação e outras habilidades manuais se desenvolvem a partir de experiências cumulativas da infância, adquiridas pela manipulação de brinquedos como bolinhas de gude, pedrinhas e outros objetos que exigem o uso das mãos e do corpo. A agilidade mental, desde a infância, é desafiada por quebra-cabeças de relações espaciais, assim como o jogo simbólico faz com que a criança imite padrões de comportamento, seja da família, ao brincar de casinha, ou de profissionais como policiais, médicos e desportistas.
Sobrevivendo desde o passado mais remoto e de uma grande variedade de culturas, a bola, a pipa e o ioiô são considerados os objetos mais antigos projetados especificamente como brinquedos, sendo quase tão antigos quanto a própria civilização. Registros arqueológicos mostram que crianças já brincavam com objetos que imitavam o mundo real há milhares de anos. Na Mesopotâmia, por volta de 2600 a.C., foram encontrados bonecos e figuras de animais em escavações da antiga Suméria. No Egito Antigo, bonecas feitas de madeira ou pano eram comuns entre as crianças das classes mais abastadas. Na Índia e na China, brinquedos de argila ou metal com rodas, papagaios (pipas) e até versões primitivas do ioiô já circulavam muito antes da era cristã.
Desde os tempos antigos, os brinquedos serviam para mais do que apenas diversão — eram formas de aprendizado. Em tempos medievais os meninos treinavam com arcos, espadas e cavalinhos de madeira para se preparar para a vida adulta e a guerra. Já as meninas costumavam brincar com bonecas, desenvolvendo desde cedo habilidades ligadas ao cuidado e à vida doméstica. Esses objetos imitativos preparavam as crianças para papéis sociais específicos. Em muitas culturas, brinquedos também tinham função ritualística ou mágica, servindo como amuletos ou representações simbólicas, e mesmo religiosas.
Durante a Idade Média europeia, a produção artesanal de brinquedos era limitada, e apenas as crianças de famílias mais abastadas tinham acesso a cavalos em miniatura, espadas e bonecas ricamente decoradas. Em contrapartida, as crianças camponesas ou de famílias mais pobres brincavam com o que havia disponível: pedras, pedaços de madeira e bonecos improvisados. Com o renascimento cultural e o crescimento das cidades, surgiu um pequeno mercado de artesãos especializados em brinquedos. Brinquedos de lata, madeira entalhada e tecidos começaram a se popularizar entre os burgueses urbanos.
A chegada do século XIX, com a Revolução Industrial, levou os brinquedos a serem produzidos em larga escala, onde máquinas e fábricas permitiram a fabricação de bonecas, trens elétricos, carrinhos de lata e jogos com preços mais acessíveis, o que ampliou o acesso das crianças de classes mais baixas. Surgiram algumas empresas especializadas em brinquedos, como a Märklin (Alemanha) e a Jumeau (França). Um dos efeitos desse momento é a elevação do brinquedo à categoria de negócio, com a elaboração de catálogos específicos, marketing para venda e exportação.
O século XX viu o a invenção de novos materiais e novas técnicas de produção industrial que atuaram como uma mola propulsora para o setor e levando à criação de brinquedos icônicos, como os carros em miniatura da Lesney-Matchbox (1953), os blocos de montar com o sistema Lego (1958) e a boneca Barbie (1959), que se tornaram fenômenos mundiais e consolidaram a indústria global do brinquedos. O Brasil teve como grande representante nessa área a Estrela, inaugurada em 1937 e presente até o momento no cenário nacional da fabricação de brinquedos. A televisão e o cinema também passaram a influenciar diretamente o mercado, e personagens de desenhos animados e filmes ganharam versões em brinquedos licenciados, como os G.I. Joe, Transformers, Star Wars, dentre outros. Outro efeito importante foi o reflexo das questões sociais como a maior diversidade racial e de gênero na produção de bonecas e personagens.
Nas últimas décadas do século XX e no início do XXI, a tecnologia transformou profundamente a maneira de brincar. Brinquedos eletrônicos, videogames, robôs e dispositivos interativos tomaram o lugar de muitos brinquedos tradicionais, e consoles como Atari, Nintendo e PlayStation redefiniram a infância de milhões de crianças. Ao mesmo tempo, surgiram brinquedos híbridos, que combinam componentes físicos com aplicativos e sensores, porém os brinquedos clássicos como bonecas, blocos de montar e jogos de tabuleiro continuam populares, especialmente entre pais que buscam experiências mais lúdicas para seus filhos.
Com o avanço da inteligência artificial, da realidade aumentada e da robótica, o futuro dos brinquedos promete ser ainda mais interativo e personalizado. No entanto, especialistas em desenvolvimento infantil alertam para a importância de se equilibrar as inovações tecnológicas com o brincar livre, criativo e não estruturado, fundamental para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças. Idealmente, os brinquedos do porvir serão aqueles que estimulam a imaginação, a inclusão e o aprendizado, sem substituir a experiência humana do brincar.
Boneca articulada romana (200 d.C.) Museu Nacional de Roma