Desde os primórdios da humanidade, os brinquedos artesanais fazem parte do desenvolvimento cultural e emocional das crianças. Antes mesmo da escrita, quando as primeiras sociedades humanas ainda caçavam e coletavam para sobreviver, já existiam registros de objetos rudimentares usados pelas crianças em atividades lúdicas. Eram feitos de materiais naturais como pedras, galhos, sementes e ossos de animais. Esses primeiros brinquedos, muitas vezes imitações em miniatura de ferramentas e armas usadas pelos adultos, não apenas entretinham, mas também ajudavam os pequenos a compreender o mundo ao seu redor e a se preparar para os papéis que desempenhariam na vida adulta.
Na Antiguidade, à medida que surgiam as primeiras civilizações organizadas, como as do Egito, Mesopotâmia, China e América Pré-Colombiana, os brinquedos artesanais começaram a ganhar formas mais elaboradas. A arqueologia aponta como exemplos de brinquedos artesanais desse período as bonecas de argila, carrinhos com rodas, animais esculpidos em madeira e jogos simples, que eram produzidos manualmente e muitas vezes tinham significados simbólicos, rituais ou educativos. Não se sabe a origem exata do pião, mas há exemplares feitos de argila que foram encontrados nas margens do rio Eufrates, e tiveram datação de aproximadamente 4.000 a.C., indicando que é um dos mais antigos brinquedos do mundo. As pipas nasceram na China e sabe-se que por volta do ano 1.200 a.C. eram utilizadas como dispositivo de sinalização entre grupos militares, de acordo com seus movimentos e cores.
No período medieval, embora a infância não fosse valorizada como uma fase distinta da vida como é vista hoje, ainda assim as crianças brincavam com objetos produzidos por artesãos locais ou por seus próprios familiares. Já no período renascentista, com o surgimento de uma nova visão sobre a infância e a valorização do aprendizado lúdico, os brinquedos passaram a ser mais observados e documentados, tornando-se mais variados e sofisticados nas classes sociais mais altas. Fizeram parte deste cenário as bonecas de pano ou madeira, utensílios de cozinha em escala reduzida, miniaturas de castelos e de animais, cavalos de pau, arcos e flechas, além de objetos de madeira que simulavam armas como espadas e lanças, onde tudo refletia o status social dos seus donos.
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII e caracterizada pela produção em grande escala de itens de consumo, começou a dominar o mercado de brinquedos, tornando-os mais acessíveis, porém menos únicos. Apesar disso, os brinquedos artesanais não desapareceram. Pelo contrário, em muitas regiões rurais e comunidades tradicionais, continuaram a ser feitos à mão, preservando costumes locais e técnicas passadas de geração em geração. Eles mantinham um forte valor simbólico e afetivo, representando um elo entre o saber popular e o cotidiano das crianças.
Com o advento do século XX e a consolidação da indústria cultural, os brinquedos passaram a incorporar personagens de filmes, desenhos e histórias em quadrinhos, enquanto os brinquedos artesanais começaram a ocupar um espaço mais restrito, mas ainda significativo. Tornaram-se expressão de resistência cultural, sendo cada vez mais valorizados como peças de identidade regional, arte popular, muitas vezes transmitidos de pais para filhos. Um deles é o estilingue, também chamado de atiradeira, seta ou bodoque, objeto feito de uma forquilha de madeira e tiras de borracha ou couro, que serviu como arma para caça de pequenos animais e aos poucos também se tornou um brinquedo, sendo encontrado em várias partes do mundo. Outro item muito apreciado entre as crianças era o carrinho de rolimã ou lomba, feito de pedaços de madeira com rodas de rolamento nas extremidades e pedaços de madeira presos atrás ou nas laterais para os empurrar, que foram bastante frequentes na segunda metade do século XX no Brasil.
Na contemporaneidade, em meio ao avanço tecnológico e à dominação dos brinquedos eletrônicos e digitais, os brinquedos artesanais seguem vivos. Eles são procurados não apenas por seu valor estético e educativo, mas também pela simplicidade que oferecem em um mundo cada vez mais acelerado e complexo. Muitos pais e educadores os valorizam por estimularem a imaginação, a coordenação motora e o vínculo com tradições culturais. Em feiras, mercados de artesanato e escolas que adotam pedagogias alternativas, como a Waldorf e a Montessori, os brinquedos artesanais seguem sendo elementos centrais do brincar.
Assim, ao longo da história da humanidade, os brinquedos artesanais resistiram ao tempo e às transformações sociais, mantendo sua essência: provocar o riso, a descoberta e o encantamento das crianças — e, muitas vezes, também dos adultos — por meio da simplicidade, da criatividade e da conexão com a natureza e a cultura local.