Os veículos que circulam pelas ruas e estradas das cidades atuais são fruto de milênios de inovação impulsionada pela criatividade humana. Das carroças e bigas egípcias aos modernos carros elétricos autônomos, todos esses meios de locomoção se beneficiaram de uma das invenções mais antigas e revolucionárias: a roda.

A arqueologia tem investigado sua origem, e há evidências de que, inicialmente, a roda não era utilizada para transporte, mas como componente dos tornos manuais de oleiros — usados para moldar cerâmica há cerca de 5.500 anos. Acredita-se que as primeiras carroças com rodas ligadas por eixos só surgiram cerca de 300 anos depois. Essa hipótese se apoia na descoberta de uma vasilha de cerâmica decorada com representações de um veículo sobre quatro rodas, que foi datada de aproximadamente 3.635 e 3.370 a.C.. Encontrada na Polônia, ela foi chamada de "Pote de Bronocice" e está exposta no Museu Arqueológico da Cracóvia.

Com o passar dos séculos, as rodas aplicadas nos meios de transporte passaram por diversas transformações. Em sua fase mais primitiva, eram feitas de madeira maciça. No Egito dos faraós, passaram a ter raios, tornando-se mais leves e ágeis. Já os povos celtas adicionaram aros de ferro para aumentar a durabilidade. A invenção do eixo giratório permitiu que a roda girasse independentemente, elevando significativamente sua eficiência.

No século XIX, a borracha passou a ser utilizada, e Robert William Thompson criou o pneu pneumático, uma inovação essencial para o conforto e desempenho dos veículos. Já no século XX, o uso do aço, de ligas de alumínio e da fibra de carbono tornou as rodas mais leves, resistentes e adaptadas às exigências da indústria automotiva. Atualmente, é possível encontrar sensores embutidos nas rodas dos veículos, capazes de monitorar pressão, temperatura e desempenho em tempo real.

Desde o final do século XIX, os veículos motorizados transformaram radicalmente a mobilidade humana. O primeiro automóvel movido a gasolina, criado por Karl Benz em 1885, deu início a uma revolução que se espalhou rapidamente pelo mundo. Com o advento da linha de montagem de Henry Ford em 1913, os carros passaram a ser produzidos em escala industrial, tornando-se mais acessíveis à população. Ao longo das décadas, os automóveis evoluíram em design, segurança e eficiência, incorporando tecnologias como ar-condicionado, sistema de som, freios ABS, airbags, navegação por GPS e, mais recentemente, motores elétricos e inteligência artificial para condução autônoma.

Enquanto os carros ganhavam espaço nas cidades, os caminhões se tornaram essenciais para o transporte de cargas, impulsionando o crescimento econômico e a logística global. Inicialmente movidos por motores a vapor, passaram a utilizar motores a combustão interna e, hoje, muitos já operam com propulsão elétrica ou híbrida. As motocicletas, por sua vez, surgiram como uma alternativa ágil e econômica, especialmente em áreas urbanas. De modelos simples a máquinas de alta performance, elas também incorporaram avanços como controle de tração, conectividade digital e design aerodinâmico.

A indústria percebeu que os veículos em miniatura poderiam ser uma excelente opção de produto. Os primeiros carrinhos de brinquedo do final do século XIX eram réplicas rudimentares de automóveis reais, feitos de chumbo, latão ou madeira. No início do século XX, os carrinhos de folha de flandres tornaram-se populares, oferecendo designs mais detalhados e funcionais. Modelos da Märklin e Bing, na Alemanha, eram bastante elaborados, com alguns deles movidos por mecanismos mecânicos ou a vapor.

Embora já houvesse, desde o final do século XIX, iniciativas europeias para produzir veículos de brinquedo do tamanho das crianças, o alto custo limitava as vendas. Com a evolução dos materiais e dos processos industriais a partir dos anos 1940, essa ideia alcançou um público maior, e os carros com tração por pedal (pedal cars) se popularizaram. Eram veículos nos quais a criança podia sentar e, ao pedalar, movimentar as rodas. Um pequeno volante acoplado ao sistema de direção das rodas dianteiras permitia ao pequeno motorista simular a condução de um carro real. Esse segmento foi explorado por empresas como Murray, Toledo, Gendron, Garton e até pela Citroën, conhecida fabricante de carros.

Diversas empresas ao redor do mundo entraram no mercado de veículos de brinquedo, lançando modelos de carrinhos, caminhões, triciclos e motocicletas. Schuco, Marx, Hubley, Gama, Wyandotte, Bandai, Joustra, Linemar, Masudaya MT, Arcade, Tonka, Lehmann e Mattel são algumas das marcas que produziram miniaturas no século XX, em escalas variadas e com materiais como ferro fundido, madeira, aço, die-cast, lata e plástico. Muitos modelos eram movidos à corda, fricção ou pilha, e foram incorporando recursos cada vez mais sofisticados. Um bom exemplo disso é o Examico II 4004, carrinho movido à corda produzido pela empresa alemã Schuco nos anos 1950. Com apenas 20 cm de comprimento ele tem seu volante móvel acoplado a um mecanismo que simula uma barra de direção em sistema de cremalheira, e no painel há uma alavanca de câmbio de 4 marchas, ré e freio.

No Brasil, empresas como Estrela, Castor, Anajé, Trol, Atma e Metalma produziram veículos de lata, madeira e plástico, oferecendo uma boa variedade de brinquedos ao longo de todo o século XX. O pedal car também teve seus exemplares nacionais, fabricados pela Estrela e Bandeirantes. Nos anos 1970, a Trol lançou a série “Destemidos Trol”, composta por triciclos de plástico rígido em várias configurações. O mais famoso deles foi o Velotrol, termo que acabou sendo adotado popularmente para identificar triciclos ou velocípedes em geral, e que continua em uso até hoje.

A evolução da indústria dos plásticos substituiu os materiais tradicionais na produção de brinquedos. Uma das tecnologias que influenciou diretamente o mercado brasileiro foi o plástico soprado (ou bolha), que reduziu os custos de fabricação e tornou os produtos mais acessíveis às famílias de menor poder aquisitivo. Participaram desse mercado empresas como Estrela, Flexa Carioca, Canindé, Beija-Flor, Rosita e muitas outras. Hoje, crianças e colecionadores têm à disposição veículos das marcas Hot Wheels, Maisto, AutoArt, Greenlight, Johnny Lightning, Jada, DM Toys e Candide, incluindo modelos com controle remoto.

A roda, que começou como uma simples ferramenta de oleiro, tornou-se um símbolo da engenhosidade humana. Ela permitiu que diversos segmentos evoluíssem, dos transportes aos brinquedos, mostrando que a ponte entre o lúdico e a realidade é fruto da criatividade e da vontade humana de se reinventar, até mesmo na hora de brincar.