Ao longo da história humana, guerras, revoluções, grandes batalhas, transformações sociais e conquistas científicas foram registradas por diversos meios artísticos e tecnológicos, que refletem não apenas os fatos, mas também os valores e as visões de cada época da sociedade. Antes mesmo de uma arte consagrada como a pintura, as esculturas e relevos, como a Coluna de Trajano ou as inscrições egípcias, minóicas, mesopotâmicas e romanas, já contavam feitos heróicos e religiosos.
No entanto, a pintura é, talvez, o meio que mais se destacou no passado, desde a arte rupestre da pré-história, passando pela culturas da antiguidade, até a pintura das Idades Média e Moderna, embora manuscritos ilustrados do período também tenham cumprido seu papel em registrar eventos. A arte dos pintores foi fundamental entre os séculos XV e XIX para fixar eventos marcantes, como mostram as obras "A Batalha de San Romano", feita em 1435 pelo italiano Paolo Uccello, e "A Batalha de Alexandre em Issus", realizada em 1526 pelo alemão Albrecht Altdorfer, que não apenas capturam o drama da guerra, mas também revelam avanços técnicos como o uso da perspectiva e da cor para transmitir movimento e heroísmo.
Na América do Norte o pintor John Trumbull imortalizou momentos decisivos da Revolução Americana, como "A Declaração de Independência" de 1819 e "A Rendição de Cornwallis" de 1820. Do outro lado do Atlântico, na França, a pintura "A Coroação de Napoleão", concluida em 1807 pelo artista francês Jacques-Louis David, retrata o momento da coroação de Napoleão Bonaparte como Imperador da França na Catedral de Notre-Dame de Paris, em 2 de dezembro de 1804. Alguns anos mais tarde o pintor Eugène Delacroix realiza a obra "A Liberdade Guiando o Povo", que representa a Revolução de Julho de 1830 em Paris, um levante popular contra o rei Carlos X.
O Brasil do século XIX também contribuiu com a representação de eventos históricos por meio da arte. Em 1879, o artista brasileiro e professor de pintura histórica Victor Meirelles conclui a obra "A Batalha dos Guararapes"´, pintura que representa uma cena de guerra ocorrida no século XVII na Capitania de Pernambuco, que culminou com a expulsão dos invasores holandeses das terras brasileiras. Outro quadro que retrata um momento histórico importante ocorrido no solo brasileiro é "Independência ou Morte!", também conhecido por "O Grito do Ipiranga", pintado em 1888 por Pedro Américo.
A invenção da fotografia, no século XIX, fez com que o registro histórico tomasse um novo rumo. Um exemplo é a "Guerra da Crimeia" (1853-1856), episódio que envolveu o Império Russo contra uma coligação integrada pelo Reino Unido, França, Reino da Sardenha e Império Otomano (atual Turquia), amplamente documentado pelo fotógrafo britânico Roger Fenton. Outro evento marcante da época foi a "Guerra Civil Americana", também conhecida como "Guerra de Secessão", documentada pelo fotógrafo norteamericano Mathew Brady. No século XX, a fotografia documental de guerra atingiu um novo patamar quando o fotógrafo Robert Capa cobriu o "Desembarque na Normandia - Dia D", ocorrido em 6 de junho de 1944 no norte da França, capturando a brutalidade, o caos e a morte no campo de batalha, mas acima de tudo, mostrando a coragem dos soldados aliados.
O advento e aperfeiçoamento de novas formas de comunicação de massa na primeira metade do século XX, com o cinema, rádio e tv, passaram a desempenhar papel crucial no registro de eventos. Documentários, filmes históricos e noticiários registraram desde os discursos de Winston Churchill até o pouso da Apollo 11 na Lua, cujas palavras foram ouvidas por milhões de pessoas ao vivo.
Nesse amplo espectro, um meio curioso e muitas vezes subestimado, foi o de representar a história humana por meio de brinquedos. Desde o século XIX, soldados de chumbo, dioramas e miniaturas ajudaram a levar episódios históricos ao cotidiano das crianças, com combinações de pedagogia, nacionalismo e entretenimento. A empresa Britains Ltd., fundada em 1893, popularizou a produção em massa desses soldados de chumbo com uniformes detalhados, canhões, cavalaria e bandeiras, transformando eventos históricos em uma brincadeira onde se combinam cenários lúdicos e muita imaginação.
No século XX, brinquedos refletiram conflitos antigos ou recentes, e passaram a incluir também modelos de guerra, jogos de tabuleiro e bonecos históricos. As empresas brasileiras Estrela, Fanabri, Comanche, Casablanca e Gulliver investiram neste segmento e lançaram diversos produtos que retratam episódios históricos, como é o caso do brinquedo "Batalha do Tuiuti", produzido pela Fanabri e que retrata uma das batalhas ocorridas durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), conflito entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai).
Na atualidade, com as tecnologias digitais e redes sociais, a história passou a ser registrada em tempo real por meio de pessoas de todas as classes com dispositivos conectados, ampliando os meios e perspectivas com que se documentam os acontecimentos. Sem dúvida, desde as pedras antigas até os dados digitais, cada meio de registro carrega intenções, silêncios e interpretações de seus criadores, e com os brinquedos isso não é diferente.
Nos dias atuais, jogos históricos incluem videogames como Assassin's Creed, Red Dead Redemption 2 e Age of Empires, além de jogos de tabuleiro como Senet e Royal Game of Ur. Esses jogos se passam em diversas eras históricas, desde a antiguidade até a era moderna. A linha de bonecas American Girl busca ampliar a diversidade e o olhar crítico sobre o passado. Assim, como a arte moldou a memória coletiva por séculos, os brinquedos também influenciam na forma como as novas gerações acessam, interpretam e imaginam a história.