O Autorama, ou automodelismo de fenda (do inglês slot car), é um dos ramos do modelismo — atividade em que automóveis, navios, aviões, personagens e outros itens são recriados como modelos em escala reduzida. No caso do Autorama, carros de corrida com acionamento elétrico são desenvolvidos nas escalas 1:24, 1:32 e 1:87 (HO), para correr em pistas especialmente fabricadas para entretenimento e competição.

Os slot cars surgiram no início do século XX, influenciados pela nascente indústria automobilística. Os primeiros modelos comerciais foram fabricados pela empresa norte-americana Lionel em 1912. Apesar de rudimentares, esses modelos já apresentavam o conceito de carros em miniatura guiados por uma fenda (slot) e alimentados eletricamente, diferenciando-se dos modelos guiados por trilhos centrais. Após décadas de tentativas e experimentações, o conceito se consolidou no Reino Unido na década de 1950 com a criação do sistema Scalextric e sua famosa pista de seis faixas em 1954 — marco fundador das corridas de slot cars modernas. Com o passar dos anos, outras empresas tiveram participação significativa no cenário internacional do slot car, como Victory, A. C. Gilbert, Jouef, Eldon, Carrera, Revell, Aurora e Mettoy.

Em 1963, inspirado por essa tendência internacional, o Brasil viu nascer o Autorama Estrela, criado pela Brinquedos Estrela. Inicialmente, a empresa importou conjuntos e moldes da marca norte-americana A. C. Gilbert, lançando localmente pistas simples em forma de "zero" e "oito", com carros Corvette e Fórmula Jr. A partir de então, a marca Autorama Estrela se desenvolveu com identidade própria, tornando-se um fenômeno nacional. Durante os anos 1960, os modelos da Estrela apresentavam altíssimo padrão de acabamento, com carros em escala 1:32, chassis metálicos basculantes (como o IFC, derivado da Cox) e réplicas fiéis de modelos icônicos como o Ford GT40, a Lola T70, o Cheetah GT, o Mustang T, o Chaparral e o Puma GT. Embora fosse um brinquedo de valor elevado, era considerado objeto de desejo — e hoje é visto como um símbolo da era de ouro do slot car brasileiro.

Nos anos 1970, a Estrela aproveitou o sucesso da Fórmula 1 no Brasil, especialmente após os títulos de Emerson Fittipaldi em 1972 e 1974. Lançou então modelos inspirados nos carros reais que ele pilotou na categoria, como a Lotus 72D e a McLaren M23, além de outros como a Tyrrell 005, pilotada pelo também campeão Jackie Stewart. As vendas cresceram, consolidando o Autorama como um dos brinquedos mais vendidos da história da marca.

A década de 1980 manteve essa força com os modelos dos pilotos Nelson Piquet e Ayrton Senna. No entanto, os carros passaram por mudanças sutis de tamanho, o que gerou dificuldades de compatibilidade com pistas anteriores da Estrela. A partir dos anos 1990, com o avanço da concorrência internacional e o surgimento de réplicas mais detalhadas por outras marcas, o Autorama Estrela entrou em declínio, com reduções visíveis na qualidade dos produtos — especialmente após 1997.

Hoje, o slot car vive uma nova fase de inovação, adotando tecnologias como os controles digitais (DCC) e sistemas interativos como o DMXslot. Apesar disso, o legado da Estrela, com seus diversos modelos de Autorama, permanece vivo como parte da cultura lúdica das corridas de carros e da memória afetiva de gerações. Esse legado é mantido por uma comunidade fiel de colecionadores e hobistas — muitos deles organizando campeonatos, restaurando pistas e modelos, e compartilhando conhecimento em redes sociais, fóruns e canais especializados — demonstrando haver uma ponte sólida entre o passado e o presente para os entusiastas desse hobby.